Maria Doroteia Joaquina de Seixas, mais conhecida como Marília de Dirceu, não foi apenas a musa do inconfidente e poeta Tomás Antônio Gonzaga. Ela também foi uma mulher que não se submeteu às atribuições femininas impostas à época.
Nascida em 1767, Doroteia era de família descendente de portugueses com muito prestígio na antiga Vila Rica. Sua mãe morreu quando ainda era criança e seu pai a deixou sob os cuidados das tias maternas. Naquela época, a educação das meninas consistia em torná-las distintas senhoras da (para a) sociedade. E, por ser de família rica, além da escrita e leitura, aprendeu etiqueta, pintura, jardinagem e música.
Na adolescência conheceu Tomás Antônio Gonzaga – o então ouvidor de Vila Rica -, com o qual viveu um romance, mas não chegou a se casar mesmo noivando por anos. A história conta que o casamento não se concretizou devido ao desfecho da Conjuração Mineira, com Gonzaga preso e enviado para exílio na África, onde permaneceu até a sua morte.
Na distância, tornou-se a musa inspiradora da obra de Gonzaga, Marília de Dirceu e, por isso, ficou conhecida por esse nome. O livro, dividido em três partes, tendo ao todo 71 liras e 14 sonetos, é uma das mais importantes obras da literatura brasileira.
Aos 25 anos pediu emancipação do pai, que morava fora, para que pudesse gerir seus próprios bens. Naquela época, a emancipação era uma forma da mulher ter sua autonomia financeira, visto que quem tomava conta dos recursos da família eram os homens. Na ausência destes, era comum as mulheres serem enviadas para conventos.
Enquanto alguns historiadores consideram a hipótese de Dorotéia ter tido um filho, o médico Anacleto Teixeira de Queiroga, considerado como seu afilhado, protegido e herdeiro, outras versões insistem no celibato de Marília.
Em 1787, Maria Doroteia entrou para a Irmandade da Ordem Terceira de São Francisco de Assis de Ouro Preto e foi Ministra da Ordem por duas vezes.Nas atas da Câmara Municipal de Ouro Preto, constam suas cobranças de reparos de encanamentos de água do chafariz público e de sua fonte particular, demonstrando que era atuante no espaço público da cidade, quando se fazia necessário.
Sua personalidade foi descrita por sua prima, Beatriz Francisca de Assis: “Doroteia era dotada de espírito vivo, e elegância natural; tinha bons ditos, respostas prontas e adequadas; e lembranças felizes, que faziam apreciável sua conversação, sempre adubada desse sal ático, que também a fazia muitas vezes temível, quando propendia para o sarcasmo, que praticava com a maior graça e firmeza”. Doroteia morreu aos 84 anos.
No Museu da Inconfidência está exposta uma de suas obras – a pintura da imagem de Santa Madalena – e seu testamento. Ambos localizados ao lado de sua lápide, na sala da Inconfidência, no 1° piso.
Referências: JARDIM, Ana Cristina Magalhães. O protagonismo feminino em Minas Gerais: Maria Dorotéia Joaquina de Seixas (1767-1853). Temporalidades , v. 11, n. 1, pág. 198-224, 2019.