Nascida em 3 de dezembro de 1759, em São João Del Rei – MG, Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira foi uma mulher importante na conjuração mineira. Inclusive, há quem diga que ela foi a heroína da inconfidência.
Heliodora pertencia a uma família da alta sociedade da antiga Vila Rica. Seu pai era o Senhor José da Silveira e Souza, português de Tomar e sua mãe, Dona Maria Josefa Bueno da Cunha, era neta do bandeirante Amador Bueno “o Anhanguera”, cognominado “O Aclamado”, fundador de uma grande dinastia paulista.
Como parte da aristocracia, a moça teve uma excelente educação. Gostava de música e poesia, tanto que se tornou uma das pioneiras da literatura brasileira. Aliás, as poesias de Bárbara são os primeiros registros no Brasil de uma mulher utilizando a escrita como forma de expressão e resistência ao silêncio imposto a elas.
A poetisa assumiu seu relacionamento com o então ouvidor e inconfidente da Comarca do Rio das Mortes de São João del Rei, Inácio José de Alvarenga Peixoto, dois anos antes do casamento formal, indicando rechaço às normas sociais da época. O casal teve quatro filhos.
Após a união com Alvarenga, Bárbara ficou intimamente ligada à inconfidência. Algumas reuniões aconteciam em sua casa e, como boa crítica que era, não só cedia o espaço, mas participava e imprimia suas opiniões.
Quando os inconfidentes foram descobertos e Alvarenga cogitou delatar os companheiros a fim de diminuir sua pena, foi Heliodora quem o repreendeu, conforme expresso em um de seus poemas: “antes a miséria, a fome, a morte, do que a traição!”, demonstrando consciência política, ética e altruísmo.
Após o desfecho da inconfidência e o exílio de Alvarenga na África, metade dos bens de Bárbara foram confiscados. Ao alegar demência, conseguiu utilizar os meios legais para passar o que restava para um de seus filhos. Algumas pesquisas indicam que ela se utilizou desse pretexto para que não tirassem tudo o que tinha e nem sofresse possíveis violências. Assim, ela poderia ter um refúgio para si.
Mas, outras versões da história contam que Bárbara teria escrito cartas para João Rodrigues de Macedo – cidadão respeitado em toda a capitania, contratador dos direitos reais e amigo de Alvarenga – solicitando ajuda para receber seus bens. Nos textos, propõe a Macêdo ser seu sócio para que, então, pudesse manter seus filhos. Em ambos os casos, percebe-se a necessidade de passar os bens para um homem pois, à época, mulheres não podiam ter autonomia financeira.
Além da ausência do marido e da perda de parte dos bens, sua filha mais velha morreu em decorrência de um acidente de cavalo. Após tanto sofrimento, é provável que a poesia tenha sido o jeito de manter sua voz viva e exprimir seus sentimentos. Para não ser descoberta, chegou inclusive a assinar alguns de seus poemas como se fosse Alvarenga Peixoto.
Bárbara se mudou para o atual município de São Gonçalo de Sapucaí e, lá, faleceu de tuberculose aos 60 anos, em 1819. Foi sepultada perto do altar dos santos – local destinado à alta sociedade – na Igreja Matriz do município. Por volta de 1920, seus ossos foram transferidos para o cemitério local e enterrados sem nenhuma lápide. Até hoje, não se sabe onde estão os restos de seu corpo.
Devido a sua brilhante participação na história, o Museu da Inconfidência possui uma lápide simbólica em homenagem a grande mulher – a frente do seu tempo – que fora. Em 2019, recebeu o título de cidadania in memoriam pela Câmara Municipal de Ouro Preto, no Panteão dos Inconfidentes.
Rerefências:
Quem foi Bárbara Heliodora, a primeira mulher a fazer poesia no Brasil, por Adrienne Kátia Savazoni Morelato.
Bárbara Heliodora, Museu Regional de São João Del Rei
Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira, por Cely Vilhena