Sob a direção de Alex Calheiros, o Museu da Inconfidência – MdInc inicia uma nova fase de sua história. E uma das principais iniciativas é a de promover intercâmbio com artistas, de forma a estabelecer diálogos para além da narrativa já presente no museu.
Assim, para inaugurar esse ciclo, o artista e professor adjunto da UnB, Elyeser Szturm, realizou residência artística em Ouro Preto, que é uma licença capacitação oferecida a docentes universitários. Assim, por meio da parceria com o Museu da Inconfidência, o objetivo da residência foi pesquisar a cantaria em pedra sabão, ofício característico da região.
De julho a setembro, Elyeser ficou em Ouro Preto para analisar e comparar as técnicas de trabalho artesanal e popular da pedra sabão com a arte colonial, chamada de erudita. A escolha pela cidade mineira deveu-se ao fato de a região ser uma das mais ricas nesse tipo de produção. Inclusive, obras em pedra sabão feitas por artistas consagrados, como Aleijadinho, são numerosas no acervo do MdInc.
Para além da pesquisa, o artista tinha o objetivo de produzir esculturas a partir da experiência na cidade. Contudo, seria muito difícil conseguir trazer os materiais do seu ateliê, em Brasília, para Minas Gerais. Assim, ele elaborou a parte teórica em Ouro Preto e, na capital, a prática. Uma das séries de obras que estão quase prontas, Elyeser tem chamado, por enquanto, de Muiraquitãs. “É uma pedra famosa nas culturas amazônicas e, fazendo as peças, percebi que elas lembravam muiraquitãs’’, pontua.
Apesar da licença ter acabado, Elyeser vai continuar os trabalhos por conta própria e voltar mais vezes para a região do inconfidentes. Segundo ele, “abriram várias vertentes de pesquisa e possibilidades de trabalho, porque Ouro Preto é inesgotável’’. Com isso, a ideia é que, futuramente, os efeitos dessa residência e dos seus estudos sejam expostos na sala Manoel da Costa Athaíde, localizada no Anexo do museu.
Elyeser é goiano e tem mais de 40 anos de carreira. Graças ao incentivo e apoio de uma professora do Ensino Médio, Sáida Cunha, ele expôs pela primeira vez num salão nacional e a partir daí, seus estudos e interesse pela arte foram ficando mais sérios. Ele conta que desde criança tem interesse pela arte: “eu desenhava escondido na aula e falava que era rascunho’’, comenta com bastante humor. Com o passar dos anos, foi se especializando em esculturas em pedra sabão. O professor também fez doutorado na França, onde sua tese falava da poética visual do sertão.
Elyeser carregando pedra sabão em uma de suas visitas em Ouro Preto.